A turnê Pop Disaster, em 2002, foi um dos encontros mais esperados no pop punk. Juntando duas das bandas punk que mais fizeram sucesso na história: Green Day com seu colega de classe Blink 182. A turnê foi de tudo, menos desastre. Shows marcados, então foi só pegar a estrada. Perto de 50 cidades pelos EUA já estavam aguardando os shows destas bandas. Nesta turnê também estiveram presentes as bandas Jimmy Eat World e Saves The Day. Nós cercamos a dupla de baixistas Mark Hoppus[Blink 182] e Mike Dirnt[Green Day] para um papo nos bastidores de um show. Confira a entrevista:
Fender: Por que escolheram o baixo?
Mark Hoppus: Quando eu tinha 15 anos, comecei a conhecer as bandas The Descendents e The Cure. Eu cresci numa pequena cidade chamada Ridgefest com 16.000 habitantes. Costumávamos ir até San Bernardino, a grande cidade, que ficava a umas duas horas de carro. Na época escutava Bad Relligion, Pennywise e nessa cidade, em algum lugar eu vi um pôster com The Descendents e NOFX e muitas fotos. Lembro que o baixista segurava um baixo da Fender®. Então fiquei muito impressionado. Aí fui até uma loja e comecei a brincar com o baixo. Nunca tive vontade de tocar guitarra. Sempre quis tocar baixo. Curto muito o som do baixo. Sempre me prendi a este instrumento. Adoro seu som, o modo como faz estremecer a casa. Amo tocá-lo.
Mike Dirnt: Eu e o Billie Joe tocávamos com um cara, o nosso grande amigo Sean. Eu tocava guitarra, quando Sean teve de ir ao dentista, aí eu peguei o baixo e gostei. Tinha 13 anos na época. Depois consegui um emprego e guardei dinheiro pra comprar um baixo. Comprei um Peavey Patriot
Fender: Sobre o The Cure. Há algum som do baixo que tenha marcado ou influenciado?
Mark Hoppus: "Killing An Arab"......eles escreveram muitas musicas legais
Mike Dirnt: Quando eu era realmente jovem, não havia nehuma loja de discos em minha cidade. Essa cidade era muito pequena mesmo, só me restava ouvir o rádio. E todas aquelas melodias iam e saíam da cabeça. Nunca gostei de copiar o som de ninguém. Com o tempo fui percebendo isso. Foi quando nós terminamos Kerplunk. É meu jeito de manter uma coisa original, sem copiar músicas de outras bandas.
Mark Hoppus: Que tal Beatles "8 days on a week"!!
Fender: Sobre compor e escrever músicas. Comentem como é esse trabalho;
Mark Hoppus: Na nossa banda, de certa forma eu toco o baixo como uma guitarra rítmica, como Mike estava falando a pouco. Faço apenas o ritmo e toco de maneira simples. Não faço muita coisa com o baixo, pois provavelmente eu acabaria errando. Se hovesse outra guitarra rítmica, eu acabaria quase como sem função na banda. Nunca toquei em bandas com duas guitarras. Então, meu baixo é tocado de forma simples, soando como se fosse uma guitarra rítmica.
Mike Dirnt: Sempre procuro meu lugar certo, mesmo sendo apenas uma nota, uma coisa que seja simples, mas contagiosa. Que seja tão contagiosa quanto os grandes solos. Posso sacá-lo em casa mesmo, não gosto de compor no estúdio. Billie escreve muitas músicas e ele sempre fala que penso diferente dele usando meu baixo. Um bom exemplo é Hitchin a ride [Nimrod]. Billie escreveu a música mas faltava algo. Aí eu disse "Espere que achei!"... Então fizemos a música e ela ficou como está hoje.
Mark Hoppus: Nosso jeito de compor e escrever músicas é muito democrático. Todos vem com diferentes idéias e partes de músicas. Aí apresentamos e fazemos algo do tipo..."Essa música dá e essa não..., que tal essa parte..." Travis é muito bom para indicar o que irá dar certo em uma música ou não e quando precisamos parar e analisar. Se há algo em questão nós apelamos para o voto.
Fender: Quanto ao Blink 182, como fazem para uma música fazer sucesso?
Mark Hoppus: Eu penso diferente de Mike, que acha que as melhores músicas são as que levam mais tempo para serem compostas. Com o Blink 182 é diferente. Para mim, nossas melhores músicas são as que foram compostas mais rápidas e fáceis. Com a música Dammit, que nos tomou alguns dez minutos para terminá-la. É como disse Jack Kerouac: "Primeira idéia, melhor idéia". Então evitamos de mexer muito em uma música, tentamos mantê-la simples. Então se der certo deu, se não, não.
Mike Dirnt: Há, com certeza muito disso. Às vezes você escreve uma música e apenas diz: "É isso aí. Está pronta!"
Fender: Quando um som não tem a cara da banda, vocês o excluem?
Mark Hoppus: Não escrevo músicas sob a pressão das pessoas que esperam um som com a cara do Blink 182. Fazer música conforme todos gostam é uma má idéia. Não nos preocupamos muito com o que as pessoas vão pensar. Só nos preocupamos em fazer música pra quem quiser ouví-la.
Mike Dirnt: Já até escrevemos músicas que se parecem com surf music ou coisas do gênero. Time Of Your Life é uma das músicas que falo. Foi assim: "Pronto, a terminamos. O que fazer com ela? Vai que dá certo." Digamos que é nosso lado-B.
Fender: E seus baixos?
Mark Hoppus: Este baixo que está comigo, foi Alex Perez [Responsável Relação Artista/ Fender] quem preparou para mim. Tem o corpo de um Jazz Bass, com o braço de um P Bass. Tem um botão de volume, só que até hoje não uso. Eu só queria um interruptor.
Mike Dirnt: Tenho quatro baixos que uso no palco e dois que são meus favoritos. Este aqui se chama Stella. É só colocá-lo em qualquer amplificador e mandar ver. Adoro este baixo. Faz mais ou menos 5 anos que o comprei.
Fender: Mark, seu modelo de baixo estará as vendas no verão. Fale mais sobre:
Mark Hoppus: Estávamos no estúdio gravando o Enema Of The State e eu gravei muitas músicas usando um baixo Ernie Ball MusicMan. Só que eu não estava gostando daquele baixo. Ele tinha um som até que bom, só que era um pouco grosso e pesado o som. Eu precisava de algo mais limpo e claro de se ouvir. Falei então com Alex Perez perguntando sobre um Jazz Bass...só ficou um pouco esquisito. Então comprei um P Bass e gostei do som. Então gravamos algumas músicas do Enema Of The State usando este baixo.
Então quando estávamos trabalhando no Take Off Your Pants And Jacket, falei com Alex e comecei a gostar do som do Jazz bass, só queria usar também o braço de um P Bass. Aí resolvemos juntá-los e deu no que deu. Este baixo rosa que estou nas mãos.
Fender: E está disponível na cor rosa, sua cor favorita? É?
Mark Hoppus: Claro...[Risos]. Apesar de muitos baixistas não se sentirem bem na frente do público tocando um baixo de cor rosa pink.
Fender: Qual sua música favorita? Seu orgulho?
Mark Hoppus: Para mim é o começo da música "Carousel", que foi a primeira música que eu e o Tom fizemos juntos. Apesar que faz dez anos que fizemos a música, mas foi uma das melhores composições que já fiz para o baixo.
Mike Dirnt: Longview. Eu tocava muito jazz naquela época. É ótima. Era de certa forma muito bagunçada.
Fender: Alguns ídolos baixistas?
Mark Hoppus: Na verdade não tenho algum ídolo em especial...Gostava muito do The Descendents e do Tony Lombardo...
Mike Dirnt: Um grande amigo meu chamado Pete Rypins tocava na banda Crimpshrine. Ele ainda é o melhor baixista de rock and roll que já vi. Ele me ensinou tudo o que eu sei. E eles ainda são uma das minhas bandas favoritas. Cliff Burton eu também achava ótimo. Até mesmo Michael Anthony era bom. Além dele também quero citar Greg Norton do Husker Du e Tommy Stinson [Replacements].
Fender: Como vocês lidam com a fama e sucesso?
Mark Hoppus: Acho que o Green Day já falou e educou muitas bandas sobre o sucesso. Quando tudo começa, jovens gostam, quando você assina com uma grande gravadora, tem um clipe na TV ou música no rádio, tudo é muito espantoso no começo. Mas, acho que bandas como Green Day, que tocam o Punk Rock e abrem as portas para uma maior audiência deste estilo de música. Abre as portas para as pessoas que desejam ver o que o Punk Rock tem para oferecer. Como resultado, os jovens estão mais inteligentes quanto a música. Não é pela gravadora ou pelos clipes da banda. É pela banda por si própria, se as músicas são boas, qual sua mensagem, se são verdadeiros com seus fãs e com seus próprios ideais. Há bandas punk que acham que não tem grande potencial só por não estarem em uma grande gravadora ou não possuírem vídeos na MTV.
Fender: Então o Green Day abriu as portas para bandas como Blink 182?
Mark Hoppus: Com absoluta certeza!
Mike Dirnt: Respeito o fato de as pessoas acharam algo para acreditar. A cena da música um tanto quanto clandestina. Gosto de culpar Kurt Cobain por isto. Mas com os anos as coisas mudam extremamente. Você pode olhar pela rua uma garota de cabelo verde e isso é normal nos dias de hoje, não como antigamente. Mal posso esperar pra ver o que irá acontecer daqui a alguns anos.
Entrevista traduzida por anônimo.